A comemoração do 50º aniversário do 25 de Abril em Silves

As comemorações do 50º aniversário do 25 de abril foram marcadas, no dia 25 de abril de 2024, por uma sessão solene da Assembleia Municipal de Silves e por um conjunto de atividades.

A manhã começou com a atuação da Banda da Sociedade Filarmónica Silvense, ladeada por elementos dos bombeiros voluntários de Silves e de São Bartolomeu de Messines, no Largo do Município. No edifício dos Paços do Concelho, uma instalação elétrica, assinalando os 50 anos do 25 de abril e muitos cravos vermelhos executados pelos Polos de Educação ao Longo da Vida, a decorar o recinto. E também cravos verdadeiros, que iam sendo distribuídos aos presentes.

Terminada a atuação da Banda, os autarcas e público presentes dirigiram-se ao Salão Nobre da Câmara Municipal.

Sessão Solene comemorativa dos 50 anos do 25 de abril

 

O Salão Nobre da Câmara Municipal de Silves foi pequeno para acolher todos os presentes, na Sessão Solene da Assembleia Municipal de Silves, comemorativa do 50º aniversário do Dia da Revolução.

Perante um vasto grupo de autarcas, (em funções e antigos),  membros da Assembleia Municipal de Silves (AMS), Executivo e vereadores da Câmara Municipal, presidentes das freguesias e uniões de freguesias, membros da Assembleia Municipal Jovem, e um grupo de cidadãos, a Sessão Solene, com início às 10h, decorreu com várias intervenções, dos representantes das forças partidárias eleitas na AMS e convidados.

Salão Nobre, na altura da intervenção da presidente da Assembleia Municipal de Silves, Sofia Belchior

A primeira intervenção foi do jovem Rafael Silva, presidente da Assembleia Municipal Jovem (projeto desenvolvido pelo Município de Silves, em colaboração com as escolas do concelho, para incentivar a participação de jovens nos processos de cidadania e política).

Rafael Silva falou em nome dos “jovens adolescentes de 2024” que reconhecem que o “25 de abril de 1974 foi um momento crucial na história de Portugal”, uma revolução que “simboliza a liberdade e destaca o ativismo político para uma sociedade justa”, e que demonstra que “mudanças positivas podem ser alcançadas quando as pessoas se unem”.

“Ao refletirmos sobre o 25 de abril somos inspirados a nos envolver ativamente na sociedade e lutar por um mundo mais justo e democrático”, acrescentou Rafael Silva, concluindo: “ para nós, jovens adolescentes e cidadãos empenhados, a revolução do 25 de abril é um símbolo da liberdade, e é crucial que a escola e a sociedade civil continuem a nos lembrar desses valores, para que sejamos os protagonistas da transmissão desses princípios às próximas gerações, os 100 anos de abril”.

(Ver aqui Intervenção na íntegra :Discurso Rafael Silva

A seguir a esta intervenção, de um jovem de 14 anos, tomou a palavra o segundo convidado, Vitorino Cavaco, com 91 anos, na qualidade do primeiro presidente da Assembleia Municipal de Silves (assumindo o cargo por desistência do cabeça de lista eleito). E foi o próprio que se referiu à sua idade, afirmando com bom humor que com certeza alguns dos presentes se estariam a interrogar “por que é que aquele velho ainda anda metido nisto”. E respondeu: “gosto disto”.

Lembrando os tempos da ditadura, em que Portugal viveu quase cinco décadas, e em que havia “muita miséria, muita fome e muito medo”, Vitorino Cavaco disse “não fiz parte desse grupo que se debateu contra a ditadura, mas tenho uma grande admiração por essas pessoas”.

Na sua intervenção, este que é o “aderente mais velho do PS no concelho” e que também foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia de São Bartolomeu de Messines após a instauração da democracia (cargo que ocupou durante vários mandatos), fez um balanço do que se alcançou com o 25 de abril, considerando que se “acerta numas e se erra noutras” mas o que conta é o “saldo positivo”. Sobre a sua própria experiência, enquanto autarca eleito após o 25 de abril, considerou que “ foi uma época muito bonita”, na qual havia muito “convívio com a população, que estava disposta a trabalhar para ajudar”.

Quanto ao futuro do 25 de abril, o histórico autarca avisou que este “depende da qualidade da democracia”.

Lago a lado, o mais jovem e o mais idoso, Rafael Silva e Vitorino Cavaco

Concluídos estes  testemunhos tão diferentes, seguiram-se as intervenções dos representantes dos partidos eleitos na Assembleia Municipal de Silves, por ordem da sua representatividade. Interveio em primeiro lugar, o representante do Chega, José Paulo Sousa que defendeu que  “as flores de abril foram caindo” e  focou o seu discurso nos problemas que o país atravessa atualmente, como a pobreza, a saúde, a educação, a insegurança e a imigração não controlada. “50 anos de abril o país está como todos sabemos, a culpa não é da data. A culpa é de todos enquanto sociedade”, afirmou.

(V er aqui intervenção na íntegra Discurso de José Paulo Sousa

A seguir falou o membro da AMS, João Palma, em representação do PS, que classificou o 25 de abril como um “feito inigualável” pelo que trouxe de “transformação social e política” que possibilitou que neste dia pudéssemos “estar aqui sem receios e medos” e a possibilidade, no caso dos autarcas, de “fazer a diferença na vida dos outros”.

João Palma, que esteve à frente da freguesia de Alcantarilha e mais tarde da União de Freguesias de Alcantarilha e Pêra durante vários mandatos, não deixou de sublinhar que hoje se vive um “tempo triste com descrédito na política”, o que se reflete no abstencionismo e sublinhou a importância de se fazer uma reflexão em torno desta temática. Terminou deixando um pedido para que eduquem os jovens nos valores de abril.

Mariana Marques, representando o PSD, fez a intervenção que se seguiu, classificando o  25 de abril, como um dia que ficará “eternamente marcado na história do país”, pelo que “comemorar meio século da Revolução dos Cravos é uma responsabilidade grandiosa de todos os decisores políticos aqui presentes e, não apenas, o mero cumprimento de dever”.

A representante do PSD considerou que aqueles “que arriscaram o seu futuro para que o país pudesse viver em democracia” merecem ser homenageados “de forma genuína”, mas que também é necessário “ter a coragem” de apontar “o que com o tempo se foi degradando e, dessa forma, enfraquecendo os principais propósitos do 25 de Abril: a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade.”

A jovem Mariana Marques (que já foi presidente da Assembleia Municipal Jovem) manifestou o seu descontentamento pela pouca representatividade de jovens na AMS, assim como pelas temáticas abordadas, que esquecem a sua geração. E também com “promessas que permanecem por cumprir” e pelo “descrédito dos decisores políticos” que levam a situações como as que aconteceram nas últimas eleições legislativas. Terminou afirmando que “os valores de Abril, passados de geração em geração, não são mais do que a oportunidade de olharmos para um horizonte aberto de possibilidades”.

(Ver aqui intervenção na íntegra Discurso Mariana Marques

A última intervenção partidária foi feita por Marco Jóia, em representação da CDU. Este começou por considerar o 25 de abril como “um dos momentos mais altos da história de Portugal” e enumerou várias das conquistas de abril como a liberdade, a democracia, o direito à associação e de manifestação, de constituição de partidos políticos, o aumento dos salários reais, o serviço nacional de saúde, geral e gratuito, o direito ao ensino e outras.

Referindo-se ao momento atual, Marco Jóia afirmou que “nestes 50 anos da revolução” está em curso uma campanha “de depreciação de Abril” que procura não só  “repisar as linhas bafientas contra Abril, que vêm do passado, mas procuram ir mais longe na sua desvalorização como projeto capaz de dar vida ao presente e arquitetar e construir o futuro”.

“Querem fazer crer que Abril é coisa do passado, para o colocar imóvel num canto da História”, acrescentou. E contrariando essa ideia:  “o generoso projeto de Abril e os seus valores acabarão por se revelar como uma necessidade objetiva na concretização de um Portugal fraterno e de progresso. Afirmando daqui que “Abril é Mais futuro”.”

(Ver aqui intervenção na íntegra Discurso Marco Joia

 

Intervenção da presidente da Câmara

Terminada a primeira parte dedicada às intervenções das forças partidárias, tomou a palavra a presidente da Câmara Municipal de Silves, Rosa Palma.

A presidente sublinhou a importância da comemoração “não rotineira” da Revolução de Abril e ainda mais quando se comemoram os 50 anos dessa revolução. Nesse sentido destacou o programa de comemorações que o Município apresentou, para todo o ano de 2024:  “São 365 dias para celebrar a liberdade, trazendo aos palcos e aos diversos equipamentos do concelho mais de 60 atividades que exploram o campo artístico da música, da poesia, da escrita, da pintura, do cinema, do teatro, do conto, da fotografia, das artes visuais e performativas, da expressão plástica … do desporto, entre outras áreas.”

A presidente não deixou de destacar a ação do Poder Local democrático, “uma conquista maior de Abril” que “deu um grande exemplo em levar a cada canto do nosso território, o esforço de solução dos pequenos e grandes problemas locais”.

Sem negar as dificuldades que uma grande parte da população enfrenta, com os problemas sociais a agravarem-se, Rosa Palma considerou que “não são os ideais de Abril que são responsáveis pelos problemas com que nos confrontamos, mas antes o seu abandono e combate aos valores que emergiram com os cravos que a revolução plantou.”

No seu discurso, a presidente prestou homenagem “aos que lutaram e resistiram, muitos que pagaram com o preço das suas próprias vidas, o seu apego à liberdade e à luta por uma vida melhor”, aos “que se organizaram e mobilizaram para que se alcançasse a jornada de oito horas” e aos “que aproveitaram todos os espaços e oportunidades para dar cimento à luta antifascista e para criar as condições que os militares aproveitaram em 25 de Abril e que o povo de imediato confirmou nas ruas”.

Rosa Palma apontou também as suas palavras para o futuro: “não apenas na perspetiva do que fizemos há 50 anos, mas atendendo aos tempos atuais, com imaginação, com inovação, com criatividade, mas sempre, sempre com os olhos postos em que trabalha e com o seu trabalho constrói o País. É nossa responsabilidade apontar para esse caminho. Combatendo os adversários de Abril, não apenas com a palavra, com o esclarecimento, com o debate aberto e frontal sobre os problemas que enfrentamos, mas acima de tudo trabalhando de forma concreta para os resolver.”

E ainda: “Temos de reconhecer que temos grandes desafios pela frente, mas temos de dizer que não os tememos. É com esperança e confiança que os encaramos. Sabendo que por trás de cada dificuldade há uma oportunidade. Para cada problema há soluções. E podem continuar a contar connosco nesta luta incessante e contínua da qual nunca desistiremos.”

(Ver aqui intervenção na íntegra Discurso Rosa Palma

 

Intervenção da presidente da Assembleia Municipal

A última intervenção na sessão solene foi da presidente da Assembleia Municipal de Silves, Ana Sofia Belchior.

Esta começou por propor que, passados 50 anos sobre a Revolução de Abril se faça “uma reflexão sobre o sentido desta mesma Liberdade”, “porque o futuro está já aí e exige novas medidas, novas formas de fazer a Liberdade, a Democracia.”

E questionou se, efetivamente, a Democracia estará em risco no nosso país. “Quando as instituições democráticas são robustas, quando a participação dos cidadãos é valorizada e há um sistema transparente que garanta a prestação de contas dos decisores, existirá menor espaço para o crescimento de forças populistas”, defendeu Sofia Belchior que não tem dúvidas que “quer queiramos, quer não queiramos, há hoje efetivamente um populismo que ameaça a democracia. Populismo que usa o descontentamento, faz crescer a intolerância e vende ilusões com receitas rápidas e supostamente eficazes para o que não corre bem.

Um populismo que a democracia acolhe, pelo primado dos seus próprios valores, mas que se aproveita dela para, por dentro, a enfraquecer e procurar desvalorizar.”

E acrescentou: “Vivemos tempos incertos como há muito não vivíamos. Ao fim de 50 anos, vemos velhos fantasmas renascerem, hoje contrariamente a abril de 1974, em vez de esperança e de alegria, os “vampiros”, os tais “vampiros” de que falava o Zeca Afonso, alimentam-se de novo do medo e do ódio. Não podemos deixar que se instalem em Portugal, como já vem acontecendo noutros países da Europa e do mundo. Essa é uma tarefa que nos compete a todos. Lutar contra o discurso simples, onde só são apontadas falhas, recorrendo à mentira, factos distorcidos ou meias verdades, sem soluções ou estratégias de democracia exige-nos uma reinvenção das formas de participação na vida coletiva.

Que ninguém se engane com os seus acenos autocráticos que, como a história nos tem ensinado, eles têm por objetivo estabelecer um poder autoritário e autoritário. Vejamos o mais recente resultado eleitoral no nosso país e no nosso concelho de Silves, nomeadamente com o crescimento abrupto da extrema direita. Quais os fatores que o explicam? Que sinais estão a ser dados? O que temos que mudar?”

Na sua intervenção, a presidente da AMS  recordou “todos os anteriores autarcas do nosso concelho, os quais representaram a vontade popular expressa nas urnas nos sucessivos atos eleitorais desde 1976 até aos dias de hoje. Foram Mulheres e Homens que deram de si o que sabiam e podiam num determinado período das suas vidas. Não fizeram tudo, não agradaram a todos, mas certamente, fizeram o que perceberam ser o melhor, mais adequado e o possível em cada período.”

No final, “passados 50 anos, podemos afirmar que estamos melhor, Portugal está melhor em todas as áreas” , mas compete-nos “a nós continuar a lutar, defender e proclamar os valores conquistados em abril de 1974: liberdade, democracia, justiça, igualdade, fraternidade e progresso”.

(Ver aqui intervenção na íntegra Discurso Sofia Belchior

Foto de grupo dos autarcas e entidades presentes

 

Mural da Liberdade

Seguidamente a esta intervenção, deu-se por encerrada a Sessão Extraordinária da Assembleia Municipal de Silves, com a exibição de um vídeo com alunos do Jardim-Escola João de Deus, de São Bartolomeu de Messines, cantando a Grândola Vila Morena.

Iam saindo os presentes no Salão Nobre quando por ali irromperam os elementos do Trans(h)umância, grupo de teatro de rua, que tinham como objetivo ir animando as ruas da cidade, conduzindo os autarcas e o público até ao Estádio Dr. Francisco Vieira, onde o artista Bamby (Hélder José ) pintava o mural dedicado à liberdade.

 

Mas, ou porque algumas pessoas não conheciam o programa, ou porque se detiveram a tirar fotografias, ou se dirigiram para outros locais, ao mural chegou um escasso número de pessoas e os membros do Executivo Municipal Permanente, recebidos com alegria pelo artista e pela sua emblemática t-shirt “O Povo Unido Jamais Será Vencido”.

Ainda neste dia, à tarde houve, na Zona Ribeirinha de Silves, várias atividades e jogos para famílias e uma exposição de carros clássicos (modelos de 1974).

De referir ainda, que no dia 24 de abril, a noite fora de festa, com o concerto de Ana Bacalhau que terminou com fogo de artifício que iluminou a Zona Ribeirinha de Silves e as centenas de pessoas que ali estavam reunidas.

 

 

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